quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Mário de Andrade, a Gastronomia e Belém

Grande Hotel demolido na década de 1970. Belém-PA
(foto: Acervo DPHAC).
Hoje foi um dia atípico, super cansativo. Confesso que quando fico assim, só penso em deitar, assistir um bom filme e dormir. Mas uma grande amiga, Dinda (é o apelido dela) me ligou convidando para tomar um vinho (coisa de happy hour) em um lugar que amamos. É uma loja de informática, de 3 andares, que tem um café.. lindo, lindo!

Somos habitueés do lugar, mas sempre descubro uma novidade por lá. Hoje, por conta do encontro de arte de Belém, estava rolando música de câmara (ao vivo) e enquanto folheava (pela centésima vez o cardápio que já conheço até de olhos fechados), percebi que a folha de apresentação trazia uma carta... a que Mário de Andrade escreveu para Manuel Bandeira, em sua história incursão pela Amazônia, no final da década de 20. O Grand Hotel foi demolido (ok, ok.. Belém é a terra do "já teve", dando lugar a um luxuoso Hilton).
Amei. Não consigo, neste momento, pensar em algo mais bonito para representar Belém... Ei-la!

" [...] Porém me conquistar mesmo a ponto de ficar doendo no desejo, só Belém me conquistou assim. Meu único ideal de agora em diante é passar uns meses morando no Grande Hotel de Belém. O direito de sentar naquela terrasse em frente das mangueiras tapando o Teatro da Paz, sentar sem mais nada, chupitando um sorvete de cupuaçu, de açaí. Você que conhece o mundo, conhece coisa melhor do que isso, Manu? Me parece impossível.

Olha que tenho visto bem coisas estupendas. Vi o Rio em todas as horas e lugares, vi a Tijuca e a Stº Teresa de você, vi a queda da Serra para Santos, vi a tarde de sinoa em Ouro Preto e vejo agorinha mesmo a manhã mais linda do Amazonas. Nada disso que lembro com saudades e que me extasia sempre ver, nada desejo rever como uma precisão absoluta fatalizada do meu organismo inteirinho.


[...] Quero Belém como se quer um amor. É inconcebível o amor que Belém despoertou em mim. E como já falei, sentar de linho branco depois da chuva na terrasse do Grande Hotel e tragar sorvete, sem vontade, só para agir".

(Trecho da Carta de Mário de Andrade a Manuel Bandeira, junho, 1927)


Theatro da Paz - a visão de Mário de Andrade

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