terça-feira, 13 de julho de 2010

Sobre o amor


Era para ser um despretensioso post detalhado sobre o suflê abaixo, mas durante a feitura dele, mergulhei em lindas memórias e refleti sobre como velhos (e bons) hábitos estão cada vez mais escassos.
Era para ser um post de feliz aniversário à grande inspiradora deste blog: a Maria Lúcia. Minha avó, que completou lindos 79 anos no último dia 07. Ela me inspira diariamente - e não é exagero. Tenho vontade de ser uma pessoa melhor por causa dela.
Podia ser um post sobre como julho tem um significado especial para mim. Mas acho que já falei tantas vezes disso aqui. Não quero cansá-los.
Enfim, era para ser um post sobre os (quase) 3 anos desta cozinha virtual, terapêutica e que me faz tão feliz.
Saiu um post sobre o amor.
Lembro com precisão de detalhes: julho era sinônimo de casa da avó Lúcia. Eu, Marília e Neto. Molecotes, contávamos as horas para julho chegar.
A cozinha da Rua Bernal do Couto, constantemente perfumada nos inspirava a ajudar Dona Maria Lúcia na preparação do almoço.
Era um clássico: sobre a mesa de tampo de vidro, na copa, farinha de rosca, purê de batata, carne moída prontinha e ovos, muitos ovos. O prato que mais amávamos eram os tais bolinhos de carne moída. Seis mãos pequeninas, regidas pelas mãos dela, davam forma aos bolinhos, passavam pelos ovos batidos, na farinha de rosca antes de serem fritos.
Daí veio um dia especial: ela me ensinou a separar a clara da gema, a retirar a película da gema (que no Pará denominamos como "pitiú") e a bater as claras em neve, de posse de um garfo. Nada mais. Eu, meio desajeitada, bati as claras e ouvi dela:
- Parabéns, Lóca (como ela me chama até hoje). Suas claras em neve cresceram muito e isso é sinal que você terá muita fartura em sua vida.
Nunca mais esqueci. Também nunca comprei uma batedeira. Por que gosto do exercício de bater as claras com um garfo? Talvez.
Porque lembro da avó Lúcia, dos dias ensolarados de julho da minha infância. Porque sempre lembro de suas palavras.
Se isso não for amor, não sei mais o que é.

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