sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Mas será o Norato?

29/11/2007 – O dia em que a terra tremeu...

Um terremoto de intensidade 7.4 na escala Richter deixou um rastro de destruição na Martinica. Dez minutos depois foi sentido em Belém, 2.269 km distante do epicentro. A coisa toda durou menos de 20 segundos e o que se viu foi uma cena inacreditável: pessoas desceram correndo dos edifícios em que se encontravam. Muita gente achou que morreria naquele momento. Os geólogos disseram que as placas tectônicas se movimentaram e o que vivenciamos aqui foi uma bobagem – coisa de 2 pontos na escala que mede a intensidade de tremores de terra.
Há, no entanto, uma outra versão. Digamos que nessa, eu acredito mais: a cobra grande (“Norato”, para os íntimos), que vive sob a cidade de Santa Maria de Belém do Grão-Pará, teria se mexido... Raul Bopp é quem tem razão.

Cobra Norato - resumo
No ventre da noite, o poeta estrangula a Cobra Norato e enfia-se em sua pele elástica para sair dos confins da floresta amazônica em direção a Belém do Pará, em busca da filha da Rainha Luzia, com quem ele quer se casar.
(...) Norato avança e cumpre as missões impostas pelo mascarão que encontra no meio do caminho: passar por sete portas, ver sete mulheres brancas de ventres despovoados, guardadas por um jacaré; entregar a sombra para o Bicho do Fundo; fazer mirongas na lua nova; beber três gotas de sangue. Norato cumpre as provas, mas não encontra a moça. Avança sozinho pela selva insone. O entusiasmo inicial cede a um certo desalento: 'Onde irei eu que já estou como sangue doendo das mirongas da filha da rainha Luzia?'
(...) Onde afinal andará a filha da rainha Luzia? (...) tatu avisa: começa naquele dia a maré grande. Os dois rumam, pelo mangue, paras as bandas do Bailique. Querem ver chegar a pororoca. Quando a lua cheia aponta, vem a onda inchada, rolando em vagalhões. Na força da enchente, eles navegam para uma polpa de mato onde Norato descansa e cisma: 'o que é que haverá lá atrás das estrelas?' Mas a fome aperta e dois vão para o patirum roubar tapioca. Na casa das farinhadas grandes, as mulheres trabalham nos ralos mastigando os cachimbos. Joaninha Vintém conta o causo do boto que a surpreendeu enquanto lavava roupa. Vendo a animação da festa, Norato e o tatu viram gente. Cantam, dançam os chorados de viola, bebem cachaça. Na hora de partir, Joaninha Vintém quer ir junto, mas Norato não aceita. Pegam o corpo que ficou lá fora e continuam viagem. (...) "Navio não", corrige o tatu. "É a Cobra Grande". Quando começa a lua cheia, ela aparece para buscar moça virgem. Enquanto a visagem vai se sumindo paras bandas de Macapá, Norato resolve: quer ver o casamento da Boiúna. (...) Na casa da Boiúna, um cururu se posta de sentinela. Norato esgueira-se pelos fundos da grota e avista a noiva, que não é ninguém menos que filha da rainha Luzia.

Mas Cobra Grande acorda e começa a perseguição sem fim. Norato pede a tamaquaré, seu cunhado, que corra imitando seu rastro e entregue o seu pixé na casa do pajé-pato. Em cima da hora! Cobra Grande passa rasgando caminho. Chega à morada do pajé que lhe ensina o caminho errado: 'Cobra Norato foi pra Belém se casar'. E lá se vai a Boiúna direto para Belém. Entra no cano da Sé e fica com cabeça enfiada debaixo dos pés de Nossa Senhora. Cobra Norato volta para o Sem-fim, para as terras altas onde a serra se amontoa. Leva consigo a noiva, para estar com ela numa casa de porta azul piquininha pintada a lápis de cor. É lá que ele espera pela gente do Caxiri Grande, por Joaninha Vintém, pelo pajé-pato, por Augusto Meyer e Tarsila, por todo povo de Belém, de Porto Alegre e de São Paulo para a festa de casamento que há de durar sete luas e sete sóis.

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