sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Comfort food*

* É o tema da coluna "Colherada", no site da Revista Leal Moreira. Para ler a versão digital da RLM, basta clicar aqui.


É a primeira lição que aprendemos: que comer pode ser um gesto de extremo amor. O ato de amamentar nos conecta com o mundo e uma mescla de sentimentos. Ao longo de nossos anos de vida, aprenderemos que a comida tem um valor sentimental; que é possível voltar no tempo, por entre memórias gustativas e olfativas e revisitar a casa dos avós, de nossos pais. Aprenderemos também que comer pode ser um modo de descontar nossas frustrações, ansiedade...

A culinária também teve de se adaptar às crescentes e mais elaboradas exigências do paladar humano. Coube aos chefs de cozinha elevar a culinária à condição de arte, surpreendendo o mundo, desconstruindo conceitos, sabores e texturas. A “ameaça” surgiu na década de 40 do século XX: os primeiros drive-in de fast food explodiam nos Estados Unidos e, em pouco tempo, eles se espalharam pelo mundo. A chamada “mundialização do gosto” representou uma revolução: em Belém do Pará ou em Pequim o gosto do sanduíche era exatamente o mesmo e a Gastronomia teve de se reinventar.

Vários movimentos surgiram no globo, em busca do resgate por práticas econômica e socialmente responsáveis, justas, levando em consideração safras, respeitando ciclos. Surgiram até movimentos para combater o desleixo alimentar, causado pelo estresse e correria dos dias modernos.

Foi nesse contexto que cunhou-se uma expressão que define bem a necessidade de volta às origens, de buscar colo, de resgate de bons sentimentos: comfort food. A comida “conforto”, preparada ao modo tradicional, que tem aquele apelo sentimental, nostálgico e que pode modificar (para melhor, naturalmente) nosso humor..

Quando se fala de “comfort food”, vem à minha mente a imagem de um prato de sopa fumegante, recém-saída do fogo. “Por que?”, vocês podem até perguntar. Porque é uma das imagens mais gostosas da minha infância: de mãos dadas com minha avó materna, íamos caminhando ao mercado de Santa Luzia (de quem ela é devota até hoje), onde ela comprava um combinado de legumes e verduras que eram os ingredientes de uma sopa generosa que só ela sabia fazer. Por conta dos problemas na visão, ela não pode mais se expor ao calor do fogão e, por isso, a sopa de legumes com carne dela não é mais tão habitual. Também nunca experimentei uma que fosse tão boa quanto essa. Por isso, creio, tenho essa relação afetiva com caldos em geral. Amo-os. Recorro a eles quando preciso de colo, de carinho...

Sabem do que eu mais gostava? Adorava sentir o gosto dos grãos de arroz, que após muito cozinhar, se abriam feito vírgulas. Ah, também amava o azeite português (como ela chama até hoje). Acho que data desta época a paixão avassaladora por azeite de oliva...

Já que não serei capaz de reproduzir a receita da tal sopa de legumes, deixo para vocês uma outra - que eu faço para minha avó atualmente: caldo verde. Espero que vocês gostem!


Receita do Caldo Verde

Coloquei duas batatas gigantes e cortadas em pedaços (descascadas) para cozinhar em água com sal e um dente de alho descascado.

Numa panela, deite um senhor-generoso-lindo fio de azeite de oliva. Doure um pouco de alho e cebola bem picadinhos. A couve tem estar cortada bem fininha, perfeita! Junte o paio português (cortado em rodelas) e refogue tudo junto. Desligue o fogo e reserve.

Quando a batata estiver cozida, macia, leve ao liquidificador com a mesma água em que foi cozida (junto com o dente de alho) e bata. Na função pulsar, você já terá um belo resultado.

Deite esse caldo de batata na panela onde estão a couve fininha o paio e leve ao fogo novamente. Deixe ali borbulhando por mais uns 10 minutos e sirva em seguida!

Um comentário:

Pit disse...

A sopa d carne c legumes da sua amada avó eu não tive a sorte d provar,mas esse caldo verde NINGUÉM faz igual a você! Bj, frô!