terça-feira, 24 de maio de 2011

Café Espresso (com "s") ou Café Expresso (com "x")?


O expresso legítimo ainda é raro por aqui

PASQUALE CIPRO NETO
COLUNISTA DA FOLHA


"Café expresso -está escrito na porta./Entro (...)/Meio tonto,/por haver acordado tão cedo.../E pronto! Parece um brinquedo.../Cai o café na xícara (...)/maquinalmente./E eu sinto o gosto, o aroma, o sangue quente de São Paulo/nesta pequena noite líquida e cheirosa/que é a minha xícara de café."

Assim começa "Café Expresso", escrito nos anos 50 por Cassiano Ricardo (1895-1974), que não hesitou: escreveu "expresso". Em português, é mesmo com "x" -não temos a palavra "espresso", com "s".

O café rápido, feito na hora, em máquinas italianas, é mesmo "expresso", que, entre outros, tem o sentido de "enviado rapidamente, sem delongas".

Foi com meu pai que aprendi a tomar café. Aos domingos, no início dos anos 60, íamos ao encontro de seus amigos italianos. "Gli amici" se reuniam na Barão de Itapetininga. Depois de boas conversas, a tradicional ida ao Café Haiti, uma das primeiras casas a servir expresso em São Paulo.

Mas expresso legítimo, por enquanto, só na Itália -e em alguns pouquíssimos lugares no Brasil. Na Itália, nunca precisei descabelar-me para receber um café encorpado, pleno de sabor e de aroma. Lá, pode-se pedir que seja mais curto do que o normal ("ristretto") ou "lungo" ("longo"), ainda assim denso o bastante para que se sinta gosto intenso de café. Delicio-me com o teste do açúcar, que só afunda depois de empurrado com a colher.

Por aqui... Explico, digo mil vezes como quero o café e quase sempre recebo água preta, rala, sem gosto.

Já passou da hora de termos o sagrado direito de saborear um legítimo expresso em qualquer lugar em que haja uma máquina italiana. Poderemos então escolher entre a nossa grafia ("expresso") ou a italiana ("espresso"), que -por que não?- poderia ser adotada como palavra universal, tão universal quanto "pizza". Mas, antes de adquirirmos o direito de grafar "espresso", precisamos aprender a fazê-lo e, sobretudo, a tomá-lo -a maioria dos brasileiros gosta mesmo é de chafé.

Nos nossos supermercados, já se encontram belos cafés adequados para bons expressos, mas ainda faltam profissionais e casas em quantidade suficiente para que o prazer de um legítimo expresso esteja sempre à mão. É isso.

Um comentário:

Luciane disse...

adoro café, mas prefiro que não seja expresso. gosto mais daquele de coador mesmo, da época da vovó... rsrsrs ei, amiga, por falar nisso, vem tomar café aqui em casa. acabei de me mudar e quero q conheças o meu pequeno ap. Bjs! Lu.