domingo, 20 de setembro de 2009

Mais uma "invencionice"



A proposta chegou em tom de desafio: mexer num clássico, fazendo uma nova leitura, ousando bastante e modificando o Tiramisú – a sobremesa italiana que ganhou o mundo e que nasceu com o propósito de conquistar.
Explico: as cortesãs de Veneza acreditavam no poder “afrodisíaco”, revigorante do doce e o consumiam antes de receber os cavalheiros. O nome, em italiano, dizem especialistas, seria uma corruptela do italiano e significaria algo como ”escolha-me” ou “coma-me”.
Alguns doceiros dizem ter criado o doce em homenagem a Cosimo III, na ocasião de sua visita a Siena. Hoje em dia, o bolo é caracterizado por um gosto intenso e delicado. Para prepará-lo, seguindo a receita original, alguns ingredientes eram necessários: biscoitos Savoiardi, ovos, açúcar, rum e cacau. Na receita original não havia licor, já que destinava-se às crianças e idosos. Há quem diga que o Tiramisú surgiu no final da Segunda Guerra, quando as mulheres faziam o doce para seus maridos levarem
para o front – já que notadamente ela é uma fonte de energia.
O pavê italiano é a sobremesa predileta do Papa Bento XVI – como mexer no que é imexível (lembrei do Magri, enquanto escrevia este texto), quase sacro, celestial?
Foi lendo uns livros antigos de receitas, que vi uma versão britânica do Tiramisú, feita com frutas vermelhas, sem abrir mão do café, do cacau, o que me inspirou a buscar uma desconstrução completa. Originalmente o doce é feito com queijo mascarpone (bem caro para os padrões brasileiros. 250 gramas custam em torno de 50 reais), ovos, cacau.
A idéia foi maturada por uma semana completa. Os ingredientes já estavam comprados, faltava uma “cobaia” – alguém com um paladar não muito doce e, principalmente, disposto a enfrentar algo novo. Um querido topou sem fazer perguntas (meu perfil predileto!). Fiz a versão em copinho e é claro que eu mexeria no produto final, se pudesse (mas o farei novamente nos moldes de um Tiramisú tradicional), faria em camadas, deixaria sob refrigeração por mais tempo. Fiz um coulis de morango com vinho, utilizei amêndoas e castanhas em pedaços, no lugar dos biscoitos Savoiardi (ou
champanhe, na falta dos originais), mas não abri mão do mascarpone. Não utilizei álcool, mas admito que um licor faria toda a diferença.
Copinho pronto, veio a hora do teste. O doce “não-doce” foi consumido inteiramente (ah, sem exageros, era pouco menos de 200 gramas), com a observação de que as amêndoas e castanhas podiam vir entre as camadas e não no fundo do copo, como optei. Vamos à receita?
Tenha em mãos o mascarpone. Se não tiver, não há problema – utilize o cream cheese batido com um pouco de creme de leite. Castanhas e amêndoas picadas. Tudo muito prático. Talvez você demore um pouquinho com o coulis e optei pelos morangos, porque ainda não é tempo das cerejas frescas ou porque as berries não sejam acessíveis.
Ingredientes:
250 gramas de morangos bem lavados e picados.
½ xícara de açúcar cristal (pode ser mais ou menos, depende do seu
paladar)
½ xícara de vinho tinto seco
Modus operandi
Frigideira (sim, frigideira!) antiaderente.

Leve a frigideira ao lume e deite nossos morangos e sobre eles, vá salpicando o açúcar, até que o morango comece a soltar um líquido de um belo vermelho. Adicione o vinho e deixe cozinhar por não mais que 6, 7 minutos. Mexa delicadamente. Desligue e deixe esfriar. Fica por sua conta usar um mixer e coar ou deixar o coulis com pedaços. Fiz a segunda opção.




Num copinho ou numa forma, vá alternando as camadas, com as castanhas, o queijo mascarpone e o coulis.
Leve à geladeira por umas 6 horas, no mínimo, antes de servir. Ah, e não esqueça que a liberdade de desconstruir um clássico, elaborando uma nova proposta, deve ter muito bom humor, descompromisso e gente disposta a experimentar entre os ingredientes. Ah, vai que a lenda é verdadeira e você potencializou o poder de conquista...

Nenhum comentário: