quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Dia de los mortos


É véspera de mais um feriado prolongado: finados. Inevitável pensar em como a morte é enxergada com pesar e dor, especialmente por nós, latino-americanos. Belém não é diferente de outras cidades – hoje, a caminho do trabalho, notei uma movimentação bem maior (e olha que hoje é só a véspera) nas ruas e avenidas dos cemitérios.

Sempre me disseram que os orientais sabem lidar melhor com essa passagem, por razões óbvias, eles costumam acreditar que o mundo de expiações é aqui e a morte é o ticket de entrada para um mundo sem sofrimentos e dores.

Na minha família conversamos sobre a morte desde que me entendo por gente. Não estou tentando “simplificar” o processo todo, mas é um assunto comum à mesa do café de final de semana. Uma de minhas tias, a Mirna, é uma criatura adorável, inteligentíssima, doutora em Literatura luso-brasileira e num rompante (bem típico dela), ela resolveu pôr no papel todos os detalhes de seu funeral (!!!): “quero meu ritual cumprindo em detalhes. Ninguém poderá dizer que não sabe como e qual fazer”. E ainda nos incentivou a fazer o mesmo.

Bom, excentricidades à parte, comentei aqui numa outra oportunidade que estou lendo a Nigella Lawson, uma chef famosa na Europa e tem um capítulo do livro dela que trata justamente da gastronomia, culinária, mesmo, para honrar os mortos.

Não é de agora que se fala sobre refeições, enquanto rituais (ainda acho que nós, latino-americanos não damos o valor merecido ao ritual da cozinha). Também não é novo: em países como Estados unidos, o México, a Inglaterra, Irlanda, Rússia, Japão e China (há muitos outros que não me recordo agora) a morte é “celebrada” com comida. Quando um ente querido morre, é comum oferecer chás, cafés, chocolate quente, numa tentativa de aquecer o espírito. Mas há também os pães, os bolos, bolinhos de arroz, frutas para alimentar o espírito. Aliás, comida sempre foi um instrumento de afeto.

Em algumas tradições celtas, altares eram erguidos com frutas, pães, trigo e vinho. Ainda que não estejam mais entre nós, fisicamente, os mortos gostam de ser lembrados com respeito.

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